Wednesday 25 April 2007

Palavras de Ninguém...


Hoje acordei assim… sedenta de palavras que teimam em querer escapar-me… Porque tem a escrita que ser tão inconstante quanto a vida? Será porque teimamos em fazer-nos reflectir em cada letra e tecer cada frase ao sabor daquilo que sentimos no momento? Talvez… porque a escrita também é uma forma de libertação… porque quando escrevo de certa forma incorporo a personagem principal dando-lhe uma forma e dimensões que vão muito além da textura do papel em que verto a tinta negra com que crio as palavras… E dou-me a mim própria a oportunidade de me tornar bem melhor do que aquilo que me vejo… Traço, com um pouco de imaginação e algum desvelo, os contornos do que poderia ser caso não insistisse em ser tão igual a mim mesma… E dou-me a oportunidade de sonhar... e de dançar com graciosidade apesar da falta de jeito… e de escrever belas histórias com ou sem inspiração… e a de ousar ter um pouco mais de frontalidade e um pouco mais de coragem… E, uma vez findos esses devaneios… esses passeios furtivos por realidades feitas de papel… olho o meu trabalho com esperança de que seja um daqueles de que poderei orgulhar-me a cada vez que o leia… Porque alguns ensaios são especiais mas não consigo alcançá-los todos os dias… E talvez seja melhor assim… Ou não saberia dar valor às diferenças e às conquistas a que por vezes me entrego… E naquelas raras ocasiões em que me encontro aprendo a dar também a mim própria um pouco mais de valor… porque por vezes também nos escondemos no silêncio das nossas indefinições e as palavras ousam querer arrancar-nos impressões e segredos que insistíamos em ocultar de nós mesmos… porque temos medo de ter esperança… e medo de chocar os outros… porque temos medo de admitir que algo tem poder sobre nós… e que pode magoar-nos ao mudar-nos a vida… porque arriscar requer coragem… e as palavras… essas parecem-nos inofensivas… delineadas em finas folhas de papel… tão frágeis na sua existência fugaz… tão fáceis de suprimir depois… E tornam-se mais do que amigas ou confidentes… mais do que fugas… mais do que escudos de medo… tornam-se um espelho em que já não temos medo de ver-nos reflectidos porque bem lá no fundo, embora possam ser nossas… também são de todos os outros… e de ninguém…

8 comments:

Carol Timm said...

Moonpoet,

As palavras, assim como a lua, têm suas fases: quando está cheia - falamos ou escrevemos muito. Mas quando se ausenta, nos deixa mudas, em contemplação. Além de possuir duas fases de transição.

Mas afinal a gente se inspira na lua ou é a lua nos move?

Acho que o bom da vida é curtir cada fase em sua plenitude.

Beijos,
Carol

Klatuu o embuçado said...

De todos... de ninguém... Ou seja: universais e livres! Pensa nisto.

Sereia Azul* said...

Olá Moonpoet!

Adorei este nome...a Lua e as estrelas são mesmo irmãs dos poetas!!

A escrita é uma necessidade, uma forma de libertarmos as palavras presas na alma...é a forma bela de nos deixarmos levar nas asas do sonho e almejar pelo infinito.

A escrita é a tela que pintamos com as cores dos versos, com as tonalidades do nosso sentimento. Abençoados os que conseguem este prodígio e levar o sol a tantos corações...

Gostei do teu sentir...

Um abraço de brisa marinha

Sereia Azul*

Nilson Barcelli said...

Achei excelente a tua reflexão sobre a escrita, sobre as palavras.
"...porque por vezes também nos escondemos no silêncio das nossas indefinições e as palavras ousam querer arrancar-nos impressões e segredos que insistíamos em ocultar de nós mesmos…"
É isso mesmo, por mais que queiramos, as palavras acabam por levar a melhor, ainda que nem sempre na totalidade.
Bom fim-de-semana.
Beijos.

Anonymous said...

Olá Cris! =) As palavras... conseguimos transformá-las num sonho mesmo quando sentimos uma tormenta dentro de nós; conseguimos encontrar a nossa própria forma meio metafórica e única de nos exprimirmos sem que seja demasiado óbvio para os outros aquilo que está contido cá dentro... as palavras e os sentimentos são nossos, mas tornam-se universais e próprios para cada pessoa que lê... deixam de ser as nossas palavras para serem as dos outros, para não serem de ninguém... enfim... a mim, ajuda-me... liberta-me... e permite-me soltar algo para o mundo, para os outros mesmo que não o faça para ninguém. :-) Gosto do teu refresso. Mil beijos cheios de força**

Anonymous said...

A ana do post anterior (www.wicahpis.blogs.sapo.pt) Beijos ;-)

Filipa said...

So tenho uma coisa a dizer... kero mais!!!!

Pedacinhos de mim said...

São nestas alturas, nestas horas em que as palavras pedem para ser escritas que somos bem mais naturais, que escrevemos para além de palavras, sentimentos e são esses que mais contam, certo?

Gostei muito de aqui passar, foi uma agradável surpresa :)